Precificar um trabalho: Você pode estar fazendo muito errado

Precificar um trabalho: Você pode estar fazendo muito errado

Olá, pessoal!!! Feliz ano novo!!! Que tenhamos um ano de muita harmonia (em duplo sentido aqui, hahahah)!

Você já parou para pensar sobre qual estratégia você usa para precificar um trabalho musical? Antes disso… você tem uma estratégia para definir o preço de um trampo? Se você respondeu “não” para qualquer pergunta (em especial à segunda), é preciso parar e aprender como precificar de maneira profissional.

Existem algumas maneiras não profissionais de dar o preço de um trabalho que tenho certeza que você conhece:

  • Quanto será que consigo arrancar dessa pessoa?
  • Me fala quanto você normalmente paga para o grupo que toca aqui na quinta!
  • Eu toquei por X semana passada. Você consegue pagar isso?
  • Você só tem isso? Dá para pelo menos liberar o consumo de bebida para a banda?

Posso passar uma tarde inteira ampliando essa lista.

Antes de definir qualquer preço de atividade musical, você precisa primeiramente saber a média de preço que está sendo praticada em sua cidade em cada tipo de evento. Digo em cada tipo porque os preços podem se diferenciar de acordo com o serviço prestado. Tocar em um bar é diferente de tocar em um casamento ou evento corporativo. Também é diferente tocar em um teatro, tocar em um festival de música, gravar CD, ou gravar DVD. Sendo assim, a primeira coisa a fazer é descobrir quanto seus parceiros estão cobrando para cada tipo de evento. Tanto parceiros locais, quanto regionais. Ter essa clareza é de extrema importância para você se colocar de maneira correta.

Depois, você precisa definir o seu preço. Definir como você se insere dentro do mercado de sua região e como você consegue equilibrar a demanda desse mercado. Sobre como definir sua inserção no mercado é um assunto para um post inteiro. Outro dia escrevo sobre isso.

Aí vem uma dica de ouro: Se você for concorrer pelo preço, você pode até se dar “bem” no início, mas a longo prazo vai ferrar o mercado de sua região e  VOCÊ NUNCA vai conseguir crescer. Por exemplo, um sabão em pó que cobra um preço barato nunca chegará ao valor de um Omo. Não sou eu quem diz isso. É o mercado.

Definir seu preço significa estabelecer o valor desejável, médio e mínimo para cada tipo de atividade que você exerce. Por exemplo, se me convidam para tocar em um festival de música instrumental, de acordo com as informações que eu tiver do festival, eu começo pedindo um valor aproximado ao meu desejável. Isso informará ao contratante a referência de valor que eu trabalho e, de cara, evitará que me faça uma oferta muito abaixo de meu valor. A partir daí, se necessário, podemos negociar um valor que fique bom para os dois, que no meu caso é entre meu valor desejável e médio. Em casos extremos, após muita análise de prós e contras, posso negociar até chegar ao valor mínimo, mas NUNCA abaixo disso.

Hamilton, você já recusou trabalho por causa de valor abaixo do mínimo? Sim. Incontáveis vezes e continuarei fazendo isso até o fim de minha vida.

Por que é importante ter um valor mínimo definido e não aceitar oferta menor? Por você e por todos.

Primeiro, por você. Conforme o exemplo do sabão, se você toca um evento por X reais e esse valor é abaixo da média dos outros músicos, NUNCA um contratante vai TE contratar por Y. Ele pode até contratar OUTRAS PESSOAS por Y, mas não você. O valor que você aceita tocar define o valor de sua arte. Mais além, define a “qualidade” de sua arte. O valor financeiro de seu trabalho será usado para comparar você com outros artistas e, caso um contratante queira algo de maior “qualidade”, vai procurar uma pessoa mais cara que você.

Obs: Coloquei a palavra qualidade entre aspas porque o valor financeiro não define sua qualidade musical em si. Define a percepção das outras pessoas sobre a qualidade de seu trabalho, semelhante a um marceneiro que cobre R$ 500,00 por uma cadeira e outro que cobre R$ 1.500,00. Naturalmente você imagina que o segundo tenha melhor qualidade, mesmo que a realidade não seja essa.

Segundo, a partir do momento que um contratante não encontra músicos que toquem por X, automaticamente vai ter que contratar pessoas por Y se quiser ter música em seu evento. O fato de você sustentar um valor mínimo vai fazer com que o valor médio da sua região suba e melhore a situação de todos. Como fazer isso? Converse com outros músicos sobre os valores que tem praticado. Seja honesto e exija honestidade. Não combine preços, pois isso é antiético e ilegal. Apenas deixe claro que você tem definido seu valor desejável, médio e mínimo e que nunca toca por menos que o mínimo por causa de todos. Isso automaticamente fará com que os outros músicos pensem nessa estratégia e comecem a recusar trabalhos abaixo do mínimo.

Para fechar, tome muito cuidado com o “3 pelo preço de 2”. Aqui em Brasília, existem alguns locais que toco em duo que me pagam o valor que considero médio para o tipo de evento. Porém, esse valor de duo, caso eu chame uma terceira pessoa, ainda fica acima do meu valor mínimo, ou seja, posso tocar de trio. Aí, o que eu faço? Continuo tocando em duo. Tenho consciência que seria mais divertido para mim tocar de trio e que eu daria emprego a mais uma pessoa. Por outro lado, fazendo isso eu “informo” ao contratante que aquele valor que ele paga para duo, pode ser pago para trio. Isso eu não faço. Se esse contratante quiser um trio – que significa melhor qualidade musical no som, vai ter que pagar a mais. Faço isso para elevar a média dos trabalhos da cidade e melhorar a vida de todos os meus companheiros de arte.

Agora eu te pergunto, o que você faz para ajudar seus companheiros?

Até a próxima!!!
HP

Texto também publicado no www.coverbaixo.com.br